Quantos de nós vêem?
Perceber, compreender, contemplar, observar, descobrir, reconhecer, visualizar, examinar, ler, olhar. São processos e funções com inúmeras conotações: da identificação de objetos simples ao uso de símbolos e da linguagem para conceituar, do pensamento indutivo ao dedutivo. O número de possibilidades desta pergunta mostra a própria complexidade do caráter e do conteúdo da inteligência visual.
Visualizar é ser capaz de formar imagens mentais. Lembramo-nos de um caminho seguindo mentalmente uma rota que vai de um lugar a outro e fazemos isso mesmo antes de iniciar o caminho.
A sintaxe visual existe. Há linhas gerais para a criação de composições. Há elementos básicos que podem ser aprendidos e compreendidos, e que podem ser usados, em conjunto com técnicas manipulativas, para a criação de mensagens visuais claras.
Praticamente tudo o que os nossos olhos vêem é comunicação visual: uma nuvem, uma flor, um desenho, um sapato, um cartaz, uma libélula, uma bandeira. Imagens que, como todas as outras, têm um valor diferente segundo o contexto em que estão inseridas, dando informações diferentes. No entanto, entre todas as mensagens que passam através dos nossos olhos, é possível fazer pelo menos duas distinções: a comunicação casual e a intencional.
O que é comunicação casual e comunicação intencional?
Comunicação casual é a nuvem que passa no céu, não certamente com a intenção de nos advertir que vai chover.
Comunicação intencional é, já ao contrário, as nuvenzinhas de fumaça que os índios faziam, nos filmes americanos de faroeste, para comunicar, através de um código preciso, uma informação precisa.
A comunicação casual pode ser livremente interpretada por quem a recebe, seja ela uma mensagem científica ou estética, ou de qualquer outro tipo.
Ao contrário, a comunicação intencional deveria ser recebida na totalidade do significado pretendido pela intenção do emissor.
Anatomia das mensagens visuais.
Expressamos e recebemos mensagens visuais em três níveis:
• representacional – identificação com o real, com a experiência. A realidade é a experiência visual básica e predominante. É a forma como aprendemos sobre coisas, das quais não podemos ter experência direta, através dos meios visuais.
• simbólico — todo o universo de sistemas de símbolos codificados que o homem criou e atribuiu significados. É a simplificação radical, aos mínimos detalhes. O símbolo pode ser qualquer coisa, de uma imagem simplificada a um sistema extremamente complexo de significados atribuídos, a exemplo da linguagem ou dos números. Para o símbolo ser eficaz deve ser visto, reconhecido, lembrado e reproduzido. Exemplos: a letra, o número, “paz e amor”, suástica, cruz vermelha e etc.
• abstrato – aquilo que a gente “enxerga”, seja da forma mais direta ou emocional. É o fato visual reduzido aos seus componentes básicos/elementares, os emocionais e os primitivos. Abstração é uma simplificação que busca um significado mais intenso e condensado. A percepção humana elimina os detalhes superficiais, numa reação à necessidade de estabelecer o equilíbrio e outras racionalizações visuais. A abstração pode existir não apenas na pureza de uma manifestação visual reduzida à minima informação representacional, mas também como abstração pura e desvinculada de qualquer relação com dados visuais conhecidos (arte abstrata).
Todos esses níveis de informação são interligados e se sobrepõem na prática. São divisões feitas mais para o sentido do conhecimento.
Elementos básicos:
• ponto–– unidade visual mínima, o indicador e marcador de espaço. Qualquer ponto tem um grande poder de atração visual sobre o olho, exista ele naturalmente ou tenha sido colocado pelo homem em resposta a um objetivo qualquer.
• linha— quando os pontos estão tão próximos entre sí que não se pode identificá-los individualmente, aumentando a sensação de direção, e a cadeia de pontos se transforma em outro elemento visual distintivo: a linha. A linha pode ser também definida como o ponto em movimento. Ela é o articulador da forma.
• forma— a linha descreve uma forma. Existem três formas básicas: o quadrado, o círculo, e o triângulo equilátero. Cada uma das formas básicas tem suas características específicas, e a cada uma se atribui uma grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação arbitrária, e outros ainda, através de nossas próprias pecepções psicológicas e fisiológicas.
quadrado— enfado, honestidade, retidão e esmero
triângulo— ação, conflito, tensão
círculo— infinitude, calidez, proteção
A partir das combinações e variações infinitas das três formas básicas, derivamos todas as formas físicas da natureza e da imaginação humana.
• direção— todas as formas básicas expressam três direções visuais básicas e significativas:
quadrado— horizontal e vertical
triângulo— diagonal
círculo— curva
Cada uma das direções visuais tem forte significado associativo, sendo um instrumento valioso para criação de mensagens visuais:
horizontal e vertical— equilíbrio
diagonal— instabilidade
curva— abrangência, repetição
• tom— só se consegue enxergar em função da presença ou da ausência relativa de luz. A luz circunda as coisas, é refletida por superfícies brilhantes, incide sobre objetos que têm, eles próprios, claridade ou obscuridade relativa. As variações de luz ou de tom são os meios pelos quais distinguimos óticamente a complexidade da informação visual do ambiente: vemos o que é escuro porque está próximo ou se superpõe ao claro, e vice-versa.
O mundo em que vivemos é dimensional, e o tom é um dos melhores instrumentos que se dispõe para expressar essa dimensão. Mesmo com a perspectiva, a linha não criará, por si só, uma ilusão convincente da realidade; é preciso recorrer ao tom, dando a aparência de realidade através da sensação de luz refletida e sombra projetada.
• cor— o tom com um componente cromático. A cor está impregnada de informação e é uma das mais penetrantes experiências visuais. Cada uma das cores também tem inúmeros significados associativos e simbólicos, oferecendo um vocabulário enorme e de grande utilidade para o alfabetismo visual.
Como a percepção da cor é o mais emocional dos elementos específicos do processo visual, ele tem grande força e pode ser usada com muito proveito para expressar e intensificar a informação visual. A cor não apenas tem um significado universalmente compartilhado através da experiência, como também um valor informativo específico, que se dá através dos significados simbólicos a ela vinculados.
• textura— é o elemento visual que com frequência serve de substituto para as qualidades de outro sentido, o tato. É possível que uma textura não apresente qualidades táteis, mas apenas óticas, como no caso das linhas de uma página impressa, dos padrões de um tecido ou de traços superpostos.
• escala ou proporção— medidas e tamanhos relativos dos objetos. Todos elementos visuais são capazes de se modificar e se definir uns aos outros, ou seja: o grande não pode existir se não existe o pequeno. A escala pode ser estabelecida não só através do tamanho relativo dos objetos, mas também através das relações com o espaço ou ambiente.
• dimensão— é uma representação que depende da ilusão. Em nenhuma das representações visuais da realidade existe uma dimensão real; ela é apenas implícita. O principal artifício para simular a dimensão é através da perspectiva.
• movimento— é um elemento visual implícito, é uma sugestão manifestada visualmente. A sugestão de movimento nas manifestações visuais estáticas é mais difícil de se conseguir sem que ao mesmo tempo se distorça a realidade, mas está implícita em tudo aquilo que vemos, e deriva de nossa experiência completa de movimento na vida.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
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